Por João Manhice: ‎Há debates que valem por uma eleição inteira.

Num encontro entre jovens e representantes dos partidos, no ano passado, não foi um político a brilhar, mas sim uma jovem anónima que, com meia dúzia de palavras, desmontou um discurso presidencial.

‎Disse ela, sem pestanejar:

‎— “O vosso candidato, dias depois da sua eleição às Presidenciais, afirmou em alto e bom som que ele era a madeira, e que o carpinteiro era o Partido. E hoje, em todos os lugares por onde passa, diz que vai combater severamente a corrupção. Como? Como é possível a madeira combater o carpinteiro? Como é que será possível?”

‎Silêncio. Aplausos. Vergonha no rosto do representante da madeira. E pronto, estava feito o diagnóstico do país, sem necessidade de comissão parlamentar, seminário internacional ou relatório técnico pago em dólares.

‎Um ano depois, a profecia confirma-se com rigor matemático. A madeira anunciou a descoberta de nyonguistas nas Linhas Aéreas de Moçambique. Grande revelação! Mas… nada aconteceu. Porque, claro, nenhuma madeira denuncia o carpinteiro que lhe dá forma.

‎Enquanto isso, a Polícia da República vai se  abatendo entre si em plena luz do dia. Já caíram cerca de dez agentes, e as famílias choram sozinhas. Ontem, para piorar, uma jovem inocente morreu com uma bala perdida vinda de um polícia que devia atingir um outro polícia. O Presidente? Silêncio absoluto. Afinal, esse negócio é do carpinteiro. Está a diminuir o seu exercício, aquele que já não serve.

‎Em Manica, rios transformados em latas de lixo químico devido às minas. Quem foi nomeado para cuidar do ambiente? Um militar. Perfeito! Porque, como todos sabemos, fuzis e granadas são ótimos instrumentos de preservação ambiental. Um ambientalista sério poderia, Deus nos livre, estragar o negócio.

‎E depois temos os famosos 18.000 fantasmas. Fantasmas de luxo, pagos com dinheiro real, enquanto a juventude, essa feita de carne e osso, continua desempregada. Mas a madeira limita-se a anunciar a descoberta, sem nunca responsabilizar. É como um mágico que tira coelhos da cartola, mas nunca explica o truque.

‎No fim, aquela jovem tinha razão. E se calhar até pouco disse: não é só que a madeira não pode combater o carpinteiro. A madeira, neste caso, parece feliz em ser talhada, lixada e até queimada,  desde que o carpinteiro continue satisfeito.

‎Moral da história? O país vive uma tragédia, mas encenada como comédia. E nós, plateia, entre aplausos e gargalhadas amargas, vamos assistindo à grande peça nacional: “A Madeira em Debandada”, encenada pelo carpinteiro-mor.

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