
Num encontro entre jovens e representantes dos partidos, no ano passado, não foi um político a brilhar, mas sim uma jovem anónima que, com meia dúzia de palavras, desmontou um discurso presidencial.
Disse ela, sem pestanejar:
— “O vosso candidato, dias depois da sua eleição às Presidenciais, afirmou em alto e bom som que ele era a madeira, e que o carpinteiro era o Partido. E hoje, em todos os lugares por onde passa, diz que vai combater severamente a corrupção. Como? Como é possível a madeira combater o carpinteiro? Como é que será possível?”
Silêncio. Aplausos. Vergonha no rosto do representante da madeira. E pronto, estava feito o diagnóstico do país, sem necessidade de comissão parlamentar, seminário internacional ou relatório técnico pago em dólares.
Um ano depois, a profecia confirma-se com rigor matemático. A madeira anunciou a descoberta de nyonguistas nas Linhas Aéreas de Moçambique. Grande revelação! Mas… nada aconteceu. Porque, claro, nenhuma madeira denuncia o carpinteiro que lhe dá forma.
Enquanto isso, a Polícia da República vai se abatendo entre si em plena luz do dia. Já caíram cerca de dez agentes, e as famílias choram sozinhas. Ontem, para piorar, uma jovem inocente morreu com uma bala perdida vinda de um polícia que devia atingir um outro polícia. O Presidente? Silêncio absoluto. Afinal, esse negócio é do carpinteiro. Está a diminuir o seu exercício, aquele que já não serve.
Em Manica, rios transformados em latas de lixo químico devido às minas. Quem foi nomeado para cuidar do ambiente? Um militar. Perfeito! Porque, como todos sabemos, fuzis e granadas são ótimos instrumentos de preservação ambiental. Um ambientalista sério poderia, Deus nos livre, estragar o negócio.
E depois temos os famosos 18.000 fantasmas. Fantasmas de luxo, pagos com dinheiro real, enquanto a juventude, essa feita de carne e osso, continua desempregada. Mas a madeira limita-se a anunciar a descoberta, sem nunca responsabilizar. É como um mágico que tira coelhos da cartola, mas nunca explica o truque.
No fim, aquela jovem tinha razão. E se calhar até pouco disse: não é só que a madeira não pode combater o carpinteiro. A madeira, neste caso, parece feliz em ser talhada, lixada e até queimada, desde que o carpinteiro continue satisfeito.
Moral da história? O país vive uma tragédia, mas encenada como comédia. E nós, plateia, entre aplausos e gargalhadas amargas, vamos assistindo à grande peça nacional: “A Madeira em Debandada”, encenada pelo carpinteiro-mor.