O que consigo ver ali é mais do que má-gestão. É um atentado à dignidade humana e à esperança de milhares de moçambicanos sem tecto.
A pergunta que se impõe é: como é que o Estado permitiu tamanho abandono? Como é que o país deixou oitenta habitações, com todas condições básicas de habitabilidade, fossem tomadas pelo lixo, mato e pelo silêncio da irresponsabilidade?
Estamos diante de um desrespeito profundo aos jovens e adultos que continuam sem habitação própria, reféns do arrendamento caro e, por vezes, humilhante nos bairros periféricos das nossas cidades.
E os sem-abrigo? O que devem estar a pensar ao verem apartamentos vazios a transformarem-se em ruínas?
Quem são as pessoas encarregues da gestão desses imóveis? Onde estavam quando os sinais de degradação começaram a emergir? Por que não agiram?
Moçambique não pode continuar a operar num regime de auto-sabotagem, onde o património público apodrece à vista de todos, sem que ninguém seja responsabilizado. Isto é crime.
Oitenta apartamentos, se considerarmos que cada uma dessas casas poderia acolher, no mínimo, três pessoas por família, estamos a falar de 240 pessoas que hoje poderiam estar a viver com dignidade. São 240 vidas a mais no mapa da esperança e da humanidade. Mas não. No lugar disso, o que temos ali são edifícios fantasmas que hoje servem de esconderijo de lixo, ratos e frustração.
Custava ao Estado arrendar aquelas casas a jovens de baixa renda? Custava criar um programa de promoção habitacional para os recém-casados, jovens profissionais ou mesmo vítimas de inundações?
São imagens que me chegam num momento de convalescença, depois de ouvir que doze pessoas, com o dinheiro do povo viajaram para Europa e permaneceram por lá por 15 longos dias, sob pretexto de inspenção de aviões para a LAM e de lá voltaram sem resultados agradáveis para a população.
Que diferença existe entre este tipo de desperdício e o abandono completo de oitenta imóveis públicos?
Afinal quem ganha com o descaso, com a sabotagem de Moçambique?
O ministro Caifadine Manasse, em recente entrevista à TV Miramar, reconheceu a gravidade do problema e prometeu intervenção. Senhor ministro, é louvável que o problema tenha chegado à sua mesa.
Mas permita-me recordar-lhe: governar é servir bem. É trabalhar incansavelmente para a felicidade do povo, sobretudo daqueles que menos têm.
Sei que este é um problema que herdou, mas não basta apagar o incêndio. É preciso conduzir uma investigação séria para descobrir quem acendeu o fósforo.
Fonte: tvmiramar