
A líder da oposição venezuelana María Corina Machado protagonizou, nesta semana, uma fuga meticulosamente planeada e de alto risco da Venezuela, numa operação descrita como “cinematográfica” por pessoas envolvidas. A ação incluiu disfarces, apoio de várias pessoas, coordenação internacional e uma perigosa travessia marítima realizada durante a noite.
Os detalhes da fuga — que permitiu à opositora de Nicolás Maduro chegar à Noruega para receber o Prémio Nobel da Paz — foram revelados pelos jornais norte-americanos The Wall Street Journal e CBS News, que ouviram fontes com conhecimento direto da operação, incluindo participantes do resgate.
Segundo Bryan Stern, veterano das Forças Especiais dos Estados Unidos e líder de uma organização norte-americana de resgate sem fins lucrativos responsável pela missão, toda a operação durou cerca de 15 horas e foi extremamente complexa e perigosa.
Vivendo escondida desde agosto de 2024, após desafiar Maduro nas eleições presidenciais, Corina Machado teve de recorrer a estratégias dignas de um filme de espionagem. Disfarçada com peruca, boné e um casaco largo, ela atravessou dez postos militares do Exército chavista entre o seu esconderijo e um discreto porto de pescadores na costa venezuelana.
A partir dali, iniciou uma arriscada viagem marítima até Curaçao, a bordo de um pequeno e antigo barco de pesca, enfrentando ondas fortes no mar das Caraíbas. Para evitar qualquer ataque, a equipa avisou previamente o Exército dos EUA sobre a travessia, uma vez que a região tem sido alvo de bombardeamentos contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas.
Durante o percurso, um problema crítico colocou a missão em risco: o GPS da embarcação caiu ao mar e o equipamento de reserva falhou, deixando Machado e a tripulação à deriva durante cerca de três horas. Diante da situação, Stern solicitou apoio ao Exército norte-americano, que ajudou a localizar o barco. Após o resgate, Corina Machado foi transferida para uma embarcação maior, onde recebeu alimentos, bebidas e roupas secas.
“Em alguns momentos, senti que havia um risco real para a minha vida, mas também foi um momento muito espiritual. No fim, senti que estava nas mãos de Deus”, afirmou a opositora em conferência de imprensa em Oslo.
A viagem completa até à Noruega incluiu trajetos terrestre, marítimo e aéreo e durou quase três dias. Depois de chegar a Curaçao, Machado embarcou num jato privado vindo de Miami, que a levou a Oslo, com uma escala no estado do Maine, nos Estados Unidos.
Apesar de afirmar que pretende regressar à Venezuela, Corina Machado não revelou quando nem como isso acontecerá. Bryan Stern, por sua vez, esclareceu que a sua organização não participará de um eventual retorno, uma vez que atua apenas em operações de extração.