
O primeiro-ministro do Nepal, KP Sharma Oli, renunciou ao cargo nesta terça-feira, pressionado pelos amplos protestos populares que se espalharam pelo país contra restrições impostas pelo governo às redes sociais e contra a corrupção no serviço público. A renúncia ocorre um dia após confrontos entre manifestantes e policiais terminarem com 25 e no mesmo dia que novos atos foram convocados, incluindo um que colocou fogo no Parlamento. Nesta terça-feira, a mulher de um ex-premier morreu quando a casa onde ela vivia foi incendiada pela multidão.
Em seu quarto mandato como primeiro-ministro, o líder do Partido Comunista enfrentava um cenário interno turbulento, com crescente descontentamento popular com a instabilidade política, corrupção e o baixo crescimento econômico o índice de desemprego se aproxima de 10%, e o PIB per capita é de apenas 1.447 dólares, segundo dados do Banco Mundial. O fator decisivo, porém, foi a resposta colérica à queda de braço entre o governo e gigantes da tecnologia.
A crise começou a se formar na quinta-feira, quando o governo determinou o bloqueio de 26 redes sociais em seu território, incluindo Facebook, X, LinkedIn e YouTube, por não terem registro perante a administração federal. O tema já havia sido deliberado pela Suprema Corte do país em 2023, mas as empresas nunca fizeram o registro ou designaram representante local e encarregado de gerir possíveis litígios.
A proibição provocou revolta em setores sociais, sobretudo nos mais jovens — algo significativo em um país que tem 43% da população entre 15 e 43 anos. A partir de sexta-feira, vídeos contrapondo as dificuldades dos nepaleses comuns e a vida luxuosa dos filhos de políticos, ostentando bens de luxo, foram amplamente compartilhados no TikTok, uma das redes que não foi bloqueada. Na segunda, manifestantes tomaram as ruas de Katmandu e outras cidades.
O principal ato na capital foi duramente reprimido pela polícia. Relatos iniciais deram conta do uso de balas de borracha, gás lacrimogêneo, canhões de água e cassetetes contra os populares, quando eles tentaram entrar em uma área proibida perto do Parlamento. A Anistia Internacional, posteriormente, denunciou o uso de munição letal.
Dezenove pessoas morreram, segundo os dados oficiais do governo. Um porta-voz da polícia citou 400 feridos, entre civis e policiais.
"Não se trata apenas de redes sociais trata-se de confiança, corrupção e de uma geração que se recusa a ficar em silêncio", escreveu o jornal Kathmandu Post. "A Geração Z cresceu com smartphones, tendências globais e promessas de um Nepal federal e próspero. Para eles, liberdade digital é liberdade pessoal. Cortar o acesso é como silenciar uma geração inteira".
Diante da crise, o governo suspendeu a proibição de acesso às plataformas, que o ministro da Comunicação, Prithvi Subba Gurung, definiu como uma das "demandas da Geração Z". Três ministros ofereceram suas renúncias antes do premier, o que não foi suficiente para conter os protestos com cenas de violência sendo registradas nesta terça.