EXCLUSIVO: MAPULENE, UM BAIRRO DA CIDADE DE MAPUTO, ONDE A POBREZA É “PÃO DE CADA DIA


A pobreza continua a ser uma das maiores preocupações em Moçambique. Desta vez, a reportagem da TV Sucesso, na voz de Julião Job e Repórter de imagem, Valdo Massingue, foi a Mapulene, bairro da cidade de Maputo onde a pobreza extrema é realidade diária.

Em Mapulene, a nossa equipa conversou com várias famílias que enfrentam condições de extrema carência. Arão, de 29 anos, pai de três filhos, vive numa casa de caniço. Visivelmente triste pela vida que leva, conta que nunca se habituou à pobreza, mas, por falta de emprego, acaba por aceitar a situação, ainda que não goste dela. O seu sonho é viver em condições dignas, como outras famílias. 

Pescador de profissão, Arão afirma que o que ganha não chega para garantir três refeições por dia e que prefere arrendar uma casa de 750 meticais, mesmo sendo difícil, e que gostaria de pagar 1.200 meticais por um espaço melhor. A esposa revela que, por vezes, passam dias sem comer e que, devido à situação, um dos filhos vive actualmente na província de Inhambane.

Ao lado da casa de Arão, encontramos uma história semelhante. Numa casa de alvenaria improvisada, vive uma família de quatro pessoas que dormem no chão, sobre uma esteira, e cozinham no mesmo espaço. Dona Leonora conta que não tem comida, possui apenas um cobertor, três pratos e algumas panelas doadas por pessoas solidárias. Perdeu a visão há nove anos e, desde então, viu a sua vida desmoronar. Afirma que, em alguns dias, os filhos não vão à escola por causa da fome.

Os números históricos mostram que a pobreza em Moçambique é um desafio de cortar o coração. Em 1996, o índice era de 69,7%. Sete anos depois, em 2003, caiu para 52,8%. Em 2009, ficou em 51,7%. A maior redução ocorreu em 2014, quando a taxa chegou a 46,1%. No entanto, em 2020, o índice subiu de forma alarmante para 68,2%, o que na verdade representa um retrocesso preocupante nos esforços de quem diz que combate à pobreza.

Em 2024, apenas 5% do subsídio social básico chegou aos beneficiários. Apesar de o país ter registado crescimento económico nos últimos 25 anos, este famoso crescimento não se faz sentir na mesa da maioria dos moçambicanos. Actualmente, cerca de 60% da população vive em situação de pobreza.

A Ministra do Trabalho, Género e Acção Social, Ivete Alane reconhece que Moçambique é um país pobre, mas com sinais de desenvolvimento. Afirma que o governo está a implementar medidas para acelerar a economia e sublinha que o combate à pobreza é responsabilidade de todos.

O psicólogo Fraime, em entrevista exclusiva à TV Sucesso, aponta a “incompetência na governação” como uma das principais causas da pobreza. Lembra que a Constituição da República estabelece a agricultura como pilar do desenvolvimento, mas as políticas aplicadas não têm resolvido o problema. 

Critica o facto de a fome ter-se tornado apenas “mais uma estatística” e considera a situação desumana. Para o psicológico, a população só é valorizada em tempos de eleições e, quando protesta, é regada com repressão policial.

 Afirma ainda que, com os recursos naturais disponíveis, “ninguém devia passar fome em Moçambique” e condena a disparidade entre o conforto dos parlamentares e a miséria vivida por cerca de 70% da população.

A economista Teresa Boene aponta as fragilidades das instituições públicas e a corrupção como entraves à execução de políticas eficazes. Também assegura que as mudanças climáticas e a insurgência armada agravaram o problema e defende que o governo deve priorizar os mais vulneráveis.


Fonte:

Reportagem: Julião Job

Imagem: Valdo Massingue

Edição: Bernardo Nhangale

Texto:  Elves Abel Mucachua


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