Depois de um longo silêncio, Venâncio Mondlane reapareceu em uma live no Facebook e, como era de se esperar, não poupou palavras.
Em vez de discursos ensaiados ou rodeios diplomáticos, trouxe um verdadeiro soco no estômago da RENAMO — partido que já foi símbolo de resistência e hoje, segundo ele, está afundado em oportunismo, covardia e falta de visão.
Mondlane não falou como alguém que quer regressar. Falou como quem já viu tudo de dentro e decidiu que não quer mais compactuar. E, goste-se ou não do seu estilo direto, não se pode ignorar a crueza de suas palavras: “Onde está o espírito de resistência?”
Essa pergunta, feita com dor e frustração, resume o que muitos simpatizantes do partido talvez sintam, mas não ousam dizer em voz alta. O que se vê hoje na juventude da RENAMO, conforme denunciado por Mondlane, é uma geração mais preocupada com cadeiras na Assembleia da República do que com os princípios históricos do partido. Jovens que deveriam carregar o bastão da luta política e ideológica estão, segundo ele, “confinados”, negociando presença institucional enquanto o edifício partidário desmorona silenciosamente.
Ainda mais contundente foi sua crítica à liderança atual do partido. Mondlane acusou diretamente certos dirigentes de terem colaborado com a FRELIMO ao convocar a UIR para reprimir ações na própria sede da RENAMO. Um escândalo, se confirmado. Pior que isso: uma traição à memória de quem deu a vida por aquele partido.
Mas o que talvez mais incomode os seus antigos colegas do azul não seja o conteúdo das críticas — pois muitas delas são inegavelmente verdadeiras —, e sim a coragem de dizê-las publicamente. Ele não fala como alguém amargo por ter sido excluído, mas como quem se recusa a assistir calado ao naufrágio de uma sigla histórica. “A maior vergonha é a liderança da RENAMO”, disse ele, olhando diretamente para a câmara.
É fácil acusá-lo de divisionismo. Mais difícil é enfrentar os fatos. A RENAMO, outrora combativa e temida, hoje vive acuada, fragmentada, silenciosa. A ausência de posicionamento claro frente a questões críticas, estratégico e a busca desesperada por cargos refletem um partido em desorientação total.
A fala de Mondlane é, portanto, um espelho incômodo. Um espelho que muitos na RENAMO têm medo de encarar, porque revela uma imagem deformada, distante daquilo que o partido já representou. E quando ele pergunta onde estão os que se diziam “da gema” e que hoje se escondem “com o rabo entre as pernas”, não é apenas provocação. É uma convocação — ainda que tardia — a uma autocrítica profunda.
Se a RENAMO quiser sobreviver como força política relevante, precisará muito mais do que estratégias eleitorais. Precisará de alma. Precisará reencontrar seu espírito de resistência, seu propósito, sua coragem. Caso contrário, como sugeriu Mondlane, a história cuidará de relegá-la ao lixo político da maneira mais humilhante possível.
Venâncio não pretende voltar. Está “na frente”, como afirmou. Mas deixou claro que não esquecerá as raízes e deu seu posicionamento . E isso, talvez, seja sua última grande contribuição à RENAMO: mostrar, com todas as letras, que há algo muito errado e que o tempo para consertar está se esgotando.
POR:HORA DA VERDADE