O partido Frelimo escolheu este sábado, 3 de Maio, para realizar uma marcha em saudação aos 100 dias de governação de Daniel Chapo.
Por coincidência — ou talvez não — a data coincide exatamente com o sétimo aniversário da morte do saudoso líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Meus respeitos e sentidas condolências à sua memória.
Voltando à marcha: a nível nacional, as ruas estiveram coloridas, vibrantes. “É a Frelimo que está a passar” — , num ambiente quase romântico. Não se viram blindados, nem gás lacrimogéneo, nem intimidações. Foi um desfile de confiança, de tranquilidade. E nisto, surge o contraste que inquieta e que, para muitos, ecoa como uma injustiça.
Nos bastidores, crescem as perguntas: por que a Frelimo desfruta do privilégio de marchar com apoio policial, enquanto outros partidos, quando tentam o mesmo, enfrentam repressão? Por que a polícia protege uns e persegue outros? Há quem diga que a Frelimo marcha sem criar conflitos — que são pacíficos do princípio ao fim — enquanto a oposição sempre termina em confrontos. Mas isso não será uma visão limitada?
É justo apontar o dedo apenas à oposição quando há confusão? Não começa o conflito, muitas vezes, quando a polícia tenta impedir que manifestem suas ideias? Quando, ao invés de diálogo, há repressão? Quando o simples ato de usar a boca se torna um risco, e o medo obriga ao silêncio ou à resistência?
São perguntas legítimas, que não visam apontar culpados, mas sim provocar reflexão. O que é democracia senão o direito igual de todos se expressarem, se organizarem, se manifestarem? Por que o poder de um partido deve implicar o enfraquecimento dos demais? Por que o pluralismo é visto como ameaça e não como riqueza nacional?
Eu, como muitos moçambicanos, também sonho. Sonho com um país onde a diferença não seja inimiga, mas aliada do crescimento. Sonho em ver todas as cores marchando pelas avenidas do país, sob o mesmo sol, protegidas pela mesma polícia, cantando cada qual suas canções, mas em respeito mútuo. Sonho com um Moçambique onde a liberdade de expressão não seja um privilégio de alguns, mas um direito de todos.
Precisamos caminhar para um futuro em que o poder não se confunda com medo e onde a autoridade não seja sinónimo de repressão. Que a memória de líderes como Dhlakama nos inspire a continuar a lutar por uma pátria mais justa, inclusiva e democrática.
Porque o verdadeiro sentido da democracia não está em quem fala mais alto, mas em quem permite que todos falem.
POR: HORA DA VERDADE